Município de Buritizeiro
O PROJETO AMBIENTANDO nasceu da necessidade de alguns profissionais de agronomia, engenharia florestal, biólogos e geógrafos, pequenos agricultores, pescadores artesanais e estudantes, em desenvolver e promover projetos e ações em educação ambiental e de conservação e proteção do meio ambiente junto a produtores rurais, estudantes e a todos os cidadãos, de modo geral.
As primeiras ações desse Projeto foram efetivamente desenvolvidas em meados de 2005 na região de Irapé (Grão Mogol, Cristália e Botumirim), com acompanhamento técnico a produtores e estudantes de escolas públicas, aos quais foram fornecidos informações e estímulos para produção de hortaliças e ervas medicinais, para proteção de nascentes, de matas ciliares e matas de topo, assim como para a preservação de espécies vegetais tradicionalmente utilizadas na alimentação humana e animal pelas antigas comunidades das margens do Jequitinhonha.
As ações do Projeto Ambientando tiveram prosseguimento na região de Ponto Chique, beira do São Francisco, com a realização de três etapas (1a etapa: educação ambiental para estudantes – palestras e caminhadas ecológicas; 2a etapa: educação ambiental junto a pequenos produtores rurais; e 3a etapa: discussão de problemas ambientais e solicitação de providências para proteção e conservação do meio ambiente).
Rio São Domingos, entre Campo Azul e Ponto Chique (MG) |
Para cumprir seus objetivos, o Projeto Ambientando tem contado com a colaboração de professores e técnicos relacionados com a causa ambiental atrelada a um modelo de desenvolvimento que se possa denominar sustentável.
Habitação típica de sertanejo norte-mineiro. (Ponto Chique - MG) |
O Norte de Minas Gerais é uma região de chuvas muito irregulares e escassas (em relação à evapotranspiração real), umidade relativa do ar frequentemente muito baixa e temperatura média anual relativamente alta.
Essas condições climáticas, especialmente na região compreendida na depressão entre a Serra do Espinhaço e o Planalto Central, permitem apenas atividades rurais baseadas na pecuária e no extrativismo. A produção agrícola é realizada em microrregiões específicas, nas baixadas úmidas ou com o uso da irrigação. A água dos rios da bacia hidrográfica do São Francisco têm para o norte-mineiro uma importância ímpar, pois são esses os principais recursos que sustentam as áreas irrigadas nessa região do país. Projetos de irrigação de menor monta, assim como a pecuária, retiram água também do lençol freático.
A pecuária de corte é uma atividade tradicional que remota desde o século XVII e é a principal responsável pela ocupação dessa região. Mas já faz algumas décadas, a pecuária extensiva e extrativista perdeu a rentabilidade que mantinha em função de uma série de fatores, entre eles, a degradação ambiental decorrente da utilização de procedimentos inadequados ou incorretos, o imobilismo de lideranças e organizações por parte dos produtores e a ausência de política agropecuária justa e adequada.
O extrativismo vegetal alcançou o auge no período de 1970 a 1995. Durante esse período, o mato foi totalmente arrancado para a produção de carvão vegetal destinado à siderúrgicas situadas principalmente na Zona Metalúrgica, em Minas Gerais. No rastro do desmatamento, plantou mais capim. Como pode ser visto nas fotos aqui postadas, pouca coisa ou quase nada sobrou da vegatação original para contar a história dessa região, onde a mata era muito abundante.
Mas a riqueza da atividade extrativista, embora permitisse a sobrevivência do sertanejo durante esse período, pouco ficou por aqui. Aqui ficaram as mazelas, a degradação do ambiente e muitas lições, que o sertanejo só agora começa a entender.
E é explorando a vida difícil dos sertanejos e seu destino incerto, e cada dia mais incerto, que os políticos de formação tradicional tiram seus votos de cabresto. Também é na manutenção dessa realidade onde muitos órgãos públicos e ONGs investem para continuar a receber os recursos públicos que os mantêm, enquanto brincam de fazer desenvolvimento.
Agora, em decorrência da guerra pela água do São Francisco, com a lei federal no. 11.428/2006 e respectivo decreto no. 6660/2008, que incorporam as regiões de Matas Secas (Florestas Estacionais Semideciduais e Florestas Estacionais Deciduais) ao bioma Mata Atlântica, talvez se consiga piorar mais ainda a situação do sertanejo, que não poderá limpar suas áreas de pastagens e de culturas, uma vez que os "remanescentes de vegetação nativa primária e vegetação nativa secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração na área de abrangência do mapa definida no caput terão seu uso e conservação regulados por este Decreto".
O que falta a essa região, na verdade, são projetos consistentes e sustentáveis de desenvolvimento regional, não a prepotência e a indústria da multa do lado do Estado, e a do fogo e da desobediência civil do outro, que precisa sobreviver, mas continua historicamente desconsiderado e desrespeitado pelo Estado brasileiro. No sertão pobre e analfabeto, sendo o voto de cabresto predominante, também constituem exceções os representantes para causas que não sejam pessoais.
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