O Io ambientando, promovido com a colaboração da PREFEITURA MUNICIPAL DE PONTO CHIQUE (MG), apresentou às 13 horas do dia 09 de agosto de 2005, terça-feira, no coreto da cidade, uma rápida palestra para os 25 alunos do Projeto Agente Jovem, mantido pelo município, e culminou com uma caminhada ecológica no córrego do Russão, onde os participantes puderam ter contato com a realidade local e conhecer melhor os problemas ambientais que os cercam. O córrego do Russão não é mais perene, situa-se no município de Ponto Chique e pertence à bacia do rio São Francisco.
Córrego do Russão - Ponto Chique (MG) |
Córrego do Russão - Ponto Chique (MG) |
Depois da caminhada ecológica, os participantes seguiram para o São Francisco, atravessaram o rio de balsa, passando de Ponto Chique para Cachoeira de Manteiga, em Buritizeiro, e retornaram.
Um conversa no barranco do Rio |
O Io ambientando terminou com a leitura de uma carta escrita por um pescador, na qual lamenta a degradação do rio e a freqüente mortandade de peixes que tem ocorrido ultimamente.
A carta do pescador ao Velho Chico
O dia já ia clareando e, em seu barco, após várias horas bebendo cachaça e sem nada pegar, o pescador começa a resmungar e a reclamar o rio.
- Ah, velho Chico, você não é mais o mesmo. Nem para banhar minhoca você serve mais. Olhe bem prá suas águas. Elas estão sujas e fedorentas, você parece um maltrapilho moribundo, que anda por aí colhendo a sujeira do mundo...
Achando que foi muito duro com o rio, seu velho amigo, o pescador pondera.
- Pera aí! Mas o quê que eu estou falando? Tou ficando besta, ou é esta cachaça maldita que não me deixa pensar. Olha meu velho, eu sei muito bem que um rio não sai por aí se enfiando no lixo, nem se entupindo de areia. Acho que não estou sendo justo com você, meu velho companheiro. Na verdade, tem muita gente te maltratando, não é? E eu não sei disto?
- Sabe Chico, você foi até agora o maior dos companheiros. Trouxe muita vida e riqueza para todos nós. Foi você quem nos deu esperança este tempo todo. Foi você que nos manteve vivos, assim como manteve a vida dos animais e das plantas que se alimentam de suas águas. Foi você também que fertilizou os solos das baixadas em suas margens, onde cultivamos a horta, o feijão, o milho e a pastagem para o gado comer na seca.
- Sabe, meu velho, eu sinto como se fosse seu filho e fico muito triste quando vejo tanta sujeira nas suas águas. Até peixe morto tem aparecido numa quantidade espantosa, o quê que é isto?
- Se você pudesse falar, tenho certeza que diria para mim, que sou seu amigo de verdade, que te entupiram com lixo e areia, que te envenenaram, que estão acabando com suas nascentes, como se acabam com uma planta quando lhe arrancam as raízes da terra.
- Se você também pudesse falar, meu rio, diria que depois de nos trazer tanta vida, tanta alegria, depois de nos dar água e peixe, depois de ver os sorrisos de tantas crianças, de sustentar tantas gerações, você falaria que agora só trás dor, tristeza, desilusão, incerteza e morte.
- Sei que você, meu rio, é a mãe e o pai de todos nós por aqui, e é por isto que você mais sofre, não é? É como se fosse uma mãe ou um pai ver os filhos com fome e com sede, porque nem a sua água se presta mais para beber.
- Meu velho e fiel companheiro, se fosse possível fazer um pedido, tenho certeza, que num suspiro, você diria que preferiria morrer de uma vez só, do que ficar agonizando e sofrendo, não por ti, mas por nós, os seus filhos, porque te dói muito ver tanta dor e desesperança e a partida daqueles que até outro dia você criou.
Rio São Francisco, entre Ponto Chique e Cachoeira da Manteiga (Buritizeiro) |
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