sábado, 12 de março de 2011

1o. AMBIENTANDO DE PONTO CHIQUE (MG)

O Io ambientando, promovido com a colaboração da PREFEITURA MUNICIPAL DE PONTO CHIQUE (MG), apresentou às 13 horas do dia 09 de agosto de 2005, terça-feira, no coreto da cidade, uma rápida palestra para os 25 alunos do Projeto Agente Jovem, mantido pelo município, e culminou com uma caminhada ecológica no córrego do Russão, onde os participantes puderam ter contato com a realidade local e conhecer melhor os problemas ambientais que os cercam. O córrego do Russão não é mais perene, situa-se no município de Ponto Chique e pertence à bacia do rio São Francisco.

Córrego do Russão - Ponto Chique (MG)
  
Córrego do Russão - Ponto Chique (MG)

 Depois da caminhada ecológica, os participantes seguiram para o São Francisco, atravessaram o rio de balsa, passando de Ponto Chique para Cachoeira de Manteiga, em Buritizeiro, e retornaram.

Um conversa no barranco do Rio

         O Io ambientando terminou com a leitura de uma carta escrita por um pescador, na qual lamenta a degradação do rio e a freqüente mortandade de peixes que tem ocorrido ultimamente.

A carta do pescador ao Velho Chico


         O dia já ia clareando e, em seu barco, após várias horas bebendo cachaça e sem nada pegar, o pescador começa a resmungar e a reclamar o rio. 
- Ah, velho Chico, você não é mais o mesmo. Nem para banhar minhoca você serve mais. Olhe bem prá suas águas. Elas estão sujas e fedorentas, você parece um maltrapilho moribundo, que anda por aí colhendo a sujeira do mundo...

Achando que foi muito duro com o rio, seu velho amigo, o pescador pondera.
- Pera aí! Mas o quê que eu estou falando? Tou ficando besta, ou é esta cachaça maldita que não me deixa pensar. Olha meu velho, eu sei muito bem que um rio não sai por aí se enfiando no lixo, nem se entupindo de areia. Acho que não estou sendo justo com você, meu velho companheiro. Na verdade, tem muita gente te maltratando, não é? E eu não sei disto?

- Sabe Chico, você foi até agora o maior dos companheiros. Trouxe muita vida e riqueza para todos nós. Foi você quem nos deu esperança este tempo todo. Foi você que nos manteve vivos, assim como manteve a vida dos animais e das plantas que se alimentam de suas águas. Foi você também que fertilizou os solos das baixadas em suas margens, onde cultivamos a horta, o feijão, o milho e a pastagem para o gado comer na seca.

- Sabe, meu velho, eu sinto como se fosse seu filho e fico muito triste quando vejo tanta sujeira nas suas águas. Até peixe morto tem aparecido numa quantidade espantosa, o quê que é isto?

- Se você pudesse falar, tenho certeza que diria para mim, que sou seu amigo de verdade, que te entupiram com lixo e areia, que te envenenaram, que estão acabando com suas nascentes, como se acabam com uma planta quando lhe arrancam as raízes da terra.

- Se você também pudesse falar, meu rio, diria que depois de nos trazer tanta vida, tanta alegria, depois de nos dar água e peixe, depois de ver os sorrisos de tantas crianças, de sustentar tantas gerações, você falaria que agora só trás dor, tristeza, desilusão, incerteza e morte.

- Sei que você, meu rio, é a mãe e o pai de todos nós por aqui, e é por isto que você mais sofre, não é? É como se fosse uma mãe ou um pai ver os filhos com fome e com sede, porque nem a sua água se presta mais para beber.

- Meu velho e fiel companheiro, se fosse possível fazer um pedido, tenho certeza, que num suspiro, você diria que preferiria morrer de uma vez só, do que ficar agonizando e sofrendo, não por ti, mas por nós, os seus filhos, porque te dói muito ver tanta dor e desesperança e a partida daqueles que até outro dia você criou.

Rio São Francisco, entre Ponto Chique e Cachoeira da Manteiga (Buritizeiro)


      


Do rio São Francisco ao Jequitinhonha

 Município de Buritizeiro

  
     O PROJETO AMBIENTANDO nasceu da necessidade de alguns profissionais de agronomia, engenharia florestal, biólogos e geógrafos, pequenos agricultores, pescadores artesanais e estudantes, em desenvolver e promover projetos e ações em educação ambiental e de conservação e proteção do meio ambiente junto a produtores rurais, estudantes e a todos os cidadãos, de modo geral.

Município de Burutizeiro
 As primeiras ações desse Projeto foram efetivamente desenvolvidas em meados de 2005 na região de Irapé (Grão Mogol, Cristália e Botumirim), com acompanhamento técnico a produtores e estudantes de escolas públicas, aos quais foram fornecidos informações e estímulos para produção de hortaliças e ervas medicinais, para proteção de nascentes, de matas ciliares e matas de topo, assim como para a preservação de espécies vegetais tradicionalmente utilizadas na alimentação humana e animal pelas antigas comunidades das margens do Jequitinhonha.

As ações do Projeto Ambientando tiveram prosseguimento na região de Ponto Chique, beira do São Francisco, com a realização de três etapas (1a etapa: educação ambiental para estudantes – palestras e caminhadas ecológicas; 2a etapa: educação ambiental junto a pequenos produtores rurais; e 3a etapa: discussão de problemas ambientais e solicitação de providências para proteção e conservação do meio ambiente).


Rio São Domingos, entre Campo Azul e Ponto Chique (MG)
A participação das pessoas tem assumido grande importância nesse Projeto. Um exemplo disso ocorreu depois da caminhada ecológica ao córrego do Russão (Ponto Chique) e ao rio São Francisco, onde a travessia foi realizada de balsa, passando de Ponto Chique para Cachoeira de Manteiga, em Buritizeiro, quando foi lida uma carta escrita por um pescador, na qual lamentava a degradação do rio e a freqüente mortandade de peixes. 

Para cumprir seus objetivos, o Projeto Ambientando tem contado com a colaboração de professores e técnicos relacionados com a causa ambiental atrelada a um modelo de desenvolvimento que se possa denominar sustentável.


Habitação típica de sertanejo norte-mineiro.
(Ponto Chique - MG)

O Norte de Minas Gerais é uma região de chuvas muito irregulares e escassas (em relação à evapotranspiração real), umidade relativa do ar frequentemente muito baixa e temperatura média anual relativamente alta.

Essas condições climáticas, especialmente na região compreendida na depressão entre a Serra do Espinhaço e o Planalto Central, permitem apenas atividades rurais baseadas na pecuária e no extrativismo. A produção agrícola é realizada em microrregiões específicas, nas baixadas úmidas ou com o uso da irrigação. A água dos rios da bacia hidrográfica do São Francisco têm para o norte-mineiro uma importância ímpar, pois são esses os principais recursos que sustentam as áreas irrigadas nessa região do país. Projetos de irrigação de menor monta, assim como a pecuária, retiram água também do lençol freático.

A pecuária de corte é uma atividade tradicional que remota desde o século XVII e é a principal responsável pela ocupação dessa região. Mas já faz algumas décadas, a pecuária extensiva e extrativista perdeu a rentabilidade que mantinha em função de uma série de fatores, entre eles, a degradação ambiental decorrente da utilização de procedimentos inadequados ou incorretos, o imobilismo de lideranças e organizações por parte dos produtores e a ausência de política agropecuária justa e adequada.

O extrativismo vegetal alcançou o auge no período de 1970 a 1995. Durante esse período, o mato foi totalmente arrancado para a produção de carvão vegetal destinado à siderúrgicas situadas principalmente na Zona Metalúrgica, em Minas Gerais. No rastro do desmatamento, plantou mais capim. Como pode ser visto nas fotos aqui postadas, pouca coisa ou quase nada sobrou da vegatação original para contar a história dessa região, onde a mata era muito abundante.

Mas a riqueza da atividade extrativista, embora permitisse a sobrevivência do sertanejo durante esse período, pouco ficou por aqui. Aqui ficaram as mazelas, a degradação do ambiente e muitas lições, que o sertanejo só agora começa a entender.

E é explorando a vida difícil dos sertanejos e seu destino incerto, e cada dia mais incerto, que os políticos de formação tradicional tiram seus votos de cabresto. Também é na manutenção dessa realidade onde muitos órgãos públicos e ONGs investem para continuar a receber os recursos públicos que os mantêm, enquanto brincam de fazer desenvolvimento.

Agora, em decorrência da guerra pela água do São Francisco, com a lei federal no. 11.428/2006 e respectivo decreto no. 6660/2008, que incorporam as regiões de Matas Secas (Florestas Estacionais Semideciduais e Florestas Estacionais Deciduais) ao bioma Mata Atlântica, talvez se consiga piorar mais ainda a situação do sertanejo, que não poderá limpar suas áreas de pastagens e de culturas, uma vez que os "remanescentes de vegetação nativa primária e vegetação nativa secundária nos estágios inicial, médio e avançado de regeneração na área de abrangência do mapa definida no caput terão seu uso e conservação regulados por este Decreto".

O que falta a essa região, na verdade, são projetos consistentes e sustentáveis de desenvolvimento regional, não a prepotência e a indústria da multa do lado do Estado, e a do fogo e da desobediência civil do outro, que precisa sobreviver, mas continua historicamente desconsiderado e desrespeitado pelo Estado brasileiro. No sertão pobre e analfabeto, sendo o voto de cabresto predominante, também constituem exceções os representantes para causas que não sejam pessoais.